Essa é a história de Rosa, uma linda princesa que adorava cantar pelos jardins do palácio em que vivia ao lado de seus pais, o rei Tancredo e a rainha Serena. Porém, embora fosse muito meiga e inteligente, Rosa se recusava a aprender a ler. Seus pais tentavam de tudo, mas não tinha jeito: a garota não queria saber de livros. O passeio com seu gato, Chiado, e o encontro com a bruxa Serpentina, todavia, fazem Rosa mudar de ideia.
Entrevistamos a autora Heloisa Prieto, que nos contou um pouco mais sobre essa princesa e como sua história estimula e ajuda os estudantes a embarcarem no mundo da aprendizagem de forma leve e lúdica. É importante salientar que A princesa que não queria aprender a ler pode fazer parte da sua escolha no PLND 2023 – Objeto 3, então, fique ligado nas dicas da autora.
Conte um pouco sobre a sua obra e a relação dela com os temas da atualidade.
“A princesa que não queria aprender a ler” é uma narrativa que marcou a minha infância. Eu adorava brincar ao ar livre, em plena liberdade, e na fazenda de meu avô baiano tive cavalos, porcos, cabritos, cães e galinhas. Nas férias que antecederam meu primeiro ano escolar, eu tinha 6 anos na época, senti medo de não ser capaz de estudar, de ficar quieta, prestando atenção. Ganhei vários livros de presente naquele verão, entre eles, uma antologia de contos portugueses onde havia essa história. Na verdade, gostei tanto dessa leitura, uma espécie de portal para outros livros, que, ao longo dos anos, acabei me tornando tradutora literária e, logo depois, escritora profissional.
Rosa, a princesa, hoje em dia pode ser interpretada como uma criança hiperativa. Recentemente, uma educadora me contou que o livro foi muito significativo para um aluno que sentia resistência à alfabetização. Na verdade, segundo o depoimento, ele quis aprender a ler para retomar o livro quantas vezes quisesse, sem mediação.
Acredito que o livro é um suporte insubstituível em tempos de mídia digital, pois ele enriquece a tela mental de cada indivíduo. Ao contrário das mídias digitais que sempre são coletivas, o livro é único, gerando uma história original sempre que é combinada à imaginação de um determinado leitor. A tríade: livro, leitor, imaginação é multiplicadora, um jogo sem fim.
Leitores muitas vezes me pedem uma sequência para a história, sugerem que eu faça um “spin off” com a história do Chiado, ou da bruxa Serpentina, por exemplo, e eu sempre lhes respondo que agora a história lhes pertence. Ou seja, a princesa é uma narrativa geradora de outras histórias, e aí reside a verdadeira riqueza de Rosa, em sua capacidade de transformar-se, mesmo estando longe dos castelos e da realeza.
Quais são os pontos fortes da leitura da obra para o professor e para os estudantes? Como a sua obra pode colaborar na formação leitora dos estudantes?
Ao longo dos anos, assisti a muitas adaptações teatrais da princesa nas escolas adotantes. As crianças facilmente identificam-se com os personagens e se divertem interpretando-os. Trata-se de uma história originária da tradição oral, portanto tentei manter a fluência da voz narradora ao recontá-la. Talvez por isso, nas escolas, os leitores jovens ou adultos gostam muito de lê-la em voz alta, ou de recitar suas falas.
Práticas criativas que ressignifiquem a narrativa, tais como ilustrá-la do seu próprio jeito, ou recontá-la de uma nova maneira podem ser desafios interessantes.
Certa vez, um professor me disse que considerava a princesa como uma narrativa libertadora, pois o fato de incentivar a leitura faz com que os estudantes caminhem em direção ao autoconhecimento. De qualquer modo, mesmo sendo um enredo relativamente simples, a Princesa dá margem a diversas interpretações e deixa um final em aberto. O que teria acontecido à bruxa?
Há também espaços de mistério para que os leitores possam gerar novas narrativas a partir dela. Não inseri explicações sobre como o príncipe teria sido encantado em gato. Será que Serpentina teria sido apaixonada por ele? É como se a narrativa trouxesse pequenos enredos embutidos a serem desenvolvidos.
Finalmente, ouvi comentários no sentido de que a história apresenta a leitura como um portal para a transformação, pois ao recitar o poema de libertação, a Princesa consegue mudar todo o cenário em que se via aprisionada.
O que você diria ao professor de escola pública para fomentar essa formação, na escola e fora dela?
Creio que a narrativa da princesa ajuda a quebrar a estereotipia do bom estudante como sendo alguém centrado, parado, totalmente atento. Uma criança pode amar um livro e desfrutar de sua leitura enquanto conversa, assiste algo na tela, ouve um recado de voz. A leitura cabe muito bem num ambiente multitarefas, por assim dizer. Rosa representa perfeitamente a criança contemporânea, em busca de novidades, aparentemente desatenta e rebelde, mas, na verdade, bastante curiosa e criativa.
A história de Rosa pode suscitar um debate com os estudantes sobre o hábito da leitura, ao mesmo tempo em que ajuda a incentivá-lo. Ao introduzir a metáfora da leitura enquanto ferramenta de transformação e libertação interna, a narrativa se qualifica como um incentivo ao aprendizado. Sendo uma narrativa de múltiplas camadas, o professor poderá solicitar variações dessa história, a inserção de novas cenas, ou ainda, a transposição da narrativa para os dias de hoje. E se Rosa fosse uma menina que não para de brincar com o celular? Como ficaria a história?
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Sobre a autora:

Heloisa Prieto é doutora em literatura francesa pela USP, mestra em comunicação e doutoranda em teoria literária pela PUC. É também tradutora e autora de diversas obras de literatura infantojuvenil. Atualmente, além de escrever e pesquisar literatura, coordena coleções e desenvolve a oficina de criação literária para crianças e jovens da rede pública, na Fundação Editora da Unesp, em parceria com o artista gráfico Marcello Araújo, em projeto coordenado por Miriam Goldfeder.