O ensino da Matemática, desde o ensino fundamental até o médio, é frequentemente apontado como um dos grandes desafios da educação em diversos países, inclusive no Brasil.
Apesar da enorme relevância da disciplina para o desenvolvimento do pensamento lógico, da resolução de problemas e da preparação para áreas como Ciência, Tecnologia, Engenharia e Economia, os resultados observados em avaliações nacionais e internacionais revelam deficiências persistentes.
No Brasil, os resultados de avaliações como o SAEB e o PISA mostram que muitos estudantes não alcançam a proficiência mínima em competências matemáticas.
Focar em “resultados” no ensino da Matemática não significa apenas exigir alto desempenho nas provas, mas também garantir que os alunos adquiram conhecimentos profundos, capacidades de raciocínio e autonomia para usar a matemática em contextos variados. Isso impõe uma série de desafios — pedagógicos, estruturais, motivacionais e políticos — que precisam ser identificados e enfrentados com estratégias coerentes.
Neste artigo, apresentamos 7 dicas práticas para superar os principais desafios do ensino da matemática e melhorar os resultados dos alunos.
1. Estimule a compreensão, não só a memorização
Um dos maiores equívocos no ensino da matemática é reduzir a disciplina a fórmulas e procedimentos mecânicos. Quando o aluno apenas “decora” a tabuada ou um algoritmo, sem entender seu fundamento, a aprendizagem se torna frágil e difícil de aplicar em situações novas.
Como aplicar:
- Use problemas abertos, que permitam diferentes estratégias de resolução.
- Explore a construção de conceitos com materiais concretos, como blocos para operações básicas ou o geoplano para geometria.
- Incentive os alunos a explicar com suas próprias palavras “como” e “por que” chegaram ao resultado.
Essa abordagem fortalece o raciocínio lógico e evita que a matemática seja vista apenas como “contas para decorar”.
2. Combata a ansiedade matemática
Estudos mostram que a ansiedade em relação à matemática é um dos fatores que mais prejudicam o desempenho dos estudantes. Quando o aluno acredita que “não nasceu para aprender matemática”, ele tende a desistir mais rapidamente diante de dificuldades.
Schoenfeld, em “Why Are Learning and Teaching Mathematics So Difficult?”, discute como crenças (belief systems) de alunos e professores moldam a maneira como a disciplina é percebida e ensinada. Uma sala de aula onde prevalece o medo ou a insegurança em relação à matemática dificilmente alcançará bons resultados. (Fonte: ResearchGate)
Como aplicar:
- Crie um ambiente de sala de aula em que o erro seja entendido como parte natural da aprendizagem.
- Celebre pequenos avanços, mostrando que a evolução é gradual.
- Use jogos matemáticos e desafios lúdicos para diminuir a tensão e tornar o aprendizado mais prazeroso.
O objetivo é ressignificar a relação do estudante com a disciplina, substituindo o medo pela confiança.
3. Invista na formação continuada de professores
O professor é o mediador fundamental da aprendizagem. No entanto, muitos ainda enfrentam lacunas em sua formação inicial e têm pouco acesso a oportunidades de atualização. Isso dificulta o uso de metodologias inovadoras e de recursos digitais.
Como aplicar:
- Incentive a participação em cursos, oficinas e especializações em ensino de matemática.
- Promova encontros de comunidades de prática, nos quais professores compartilhem experiências, materiais e estratégias que funcionaram em sala.
- Estimule a observação de aulas entre pares, como já acontece em países com bons resultados no PISA, a exemplo de Cingapura.
Com docentes bem preparados, a escola consegue alinhar práticas pedagógicas mais consistentes e eficazes.
4. Use recursos concretos e tecnológicos
A matemática pode ser abstrata, mas isso não significa que precise ser distante da realidade do aluno. Recursos concretos e tecnológicos ajudam a visualizar conceitos e tornam o aprendizado mais significativo.
Como aplicar:
- Materiais como ábacos, tangram, blocos lógicos e régua de cálculo podem ser utilizados nos anos iniciais.
- Aplicativos como o Rei da Matemática (Android e iOS), Mathway (Android e iOS), GeoGebra, Khan Academy, Microsoft Math Solver permitem explorar funções, gráficos e geometria de forma interativa.
- Plataformas adaptativas, que personalizam o ritmo de estudo de cada aluno, podem identificar lacunas individuais e sugerir exercícios direcionados.

Esses recursos aumentam o engajamento e facilitam a compreensão, especialmente em conteúdos abstratos como álgebra e geometria.
5. Realize diagnósticos frequentes
Avaliar apenas no final do bimestre não é suficiente. O professor precisa ter clareza sobre quais conceitos os alunos já dominam e quais ainda apresentam dificuldades.
Como aplicar:
- Utilize avaliações diagnósticas curtas e frequentes, que não tenham caráter punitivo, mas informativo.
- Registre os resultados e organize a turma em grupos de reforço ou de aprofundamento conforme as necessidades.
- Use esses dados para ajustar o planejamento: se a maioria não entendeu um conceito, é preciso retomar antes de avançar.
Essa prática evita que lacunas se acumulem e comprometam os resultados futuros.
6. Desenvolva a leitura e a comunicação matemática
Muitos alunos erram não por não saber calcular, mas por não conseguir interpretar o enunciado do problema. A matemática também exige habilidades de leitura, interpretação e argumentação.
Como aplicar:
- Trabalhe problemas contextualizados com textos curtos, gráficos e tabelas.
- Oriente os alunos a destacar palavras-chave do enunciado e a reescrever a questão com suas próprias palavras.
- Estimule a argumentação matemática, pedindo que os estudantes expliquem suas estratégias de resolução e comparem soluções entre colegas.
Essa prática desenvolve não só a capacidade de resolver problemas, mas também a competência comunicativa, essencial para o desempenho em avaliações externas.
7. Contextualize a matemática na vida real
Quando os alunos enxergam utilidade e beleza na matemática, o aprendizado se torna mais motivador e duradouro. Contextualizar a disciplina significa aproximá-la do cotidiano e das expressões da natureza e da cultura humana.
Como aplicar:
- Use exemplos práticos do dia a dia: cálculos financeiros (juros, descontos), estatísticas em esportes, medidas em receitas culinárias ou análise de problemas ambientais.
- Explore a sequência de Fibonacci e a proporção áurea: mostre como aparecem nas flores, conchas, galhos de árvores, obras de arte e na arquitetura. Esse é um excelente ponto de partida para projetos interdisciplinares com ciências, arte e história.
- Relacione com a música: ritmos, escalas e composições seguem padrões matemáticos — por exemplo, as frações nas partituras e as proporções harmônicas.
- Promova projetos interdisciplinares: os alunos podem investigar como a matemática se manifesta em obras famosas (como o Partenon, a Mona Lisa ou composições de Bach) e criar apresentações que unam arte, som e números.
- Incentive a observação do mundo: proponha que tragam fotos, desenhos ou exemplos de onde encontraram padrões matemáticos na natureza ou no cotidiano.
Assim, a matemática deixa de ser abstrata e passa a ser percebida como linguagem universal da criação, capaz de revelar ordem, proporção e beleza no mundo — da pétala de uma flor à fachada de uma catedral.
Conclusão
Superar os desafios do ensino da matemática exige uma mudança de mentalidade: menos foco na memorização mecânica e mais na compreensão, no raciocínio e na aplicação prática.
Professores bem preparados, uso de recursos adequados, acompanhamento contínuo e um ambiente de aprendizagem motivador são pilares para que os alunos avancem.
Com essas 7 dicas, as escolas podem transformar o ensino da matemática em uma experiência mais acessível, envolvente e eficaz — garantindo não apenas melhores resultados em provas como SAEB e PISA, mas também o desenvolvimento de competências essenciais para o futuro acadêmico, profissional e pessoal dos estudantes.
Aproveite para ler Matemática Divertida: Inovando com Tecnologia no Ensino Fundamental. Até mais!